Uma escultura na sala
Gloria Ferreira

Uma escultura se espraia por todos os espaços expositivos da Casa de Cultura Laura Alvim. Não esculpida ou modelada, mas construída com cubos de ferro vazados, por vezes superpostos ou ao rés do chão, pintados em listras brancas e pretas, ou apenas em branco ou preto, ela constitui a exposição Uma Escultura na Sala, de Eduardo Coimbra. Outras formações com esses mesmos cubos foram apresentadas como intervenções urbanas na mostra Experiência da Arte, em Brasília, em 2014, e também na Praça Tiradentes, por ocasião da exposição do artista, 2 Esculturas em 2013. Aqui, torna-se uma espécie de intervenção interior, ou, utilizando os termos de Rosalind Krauss, uma escultura no campo ampliado.

As relações com a escultura são recorrentes na poética de Edu Coimbra. Segundo o artista, "mesmo usando apenas fotografias recortadas e agrupadas, nos Asteroides o procedimento tem algo do gesto escultórico de adequar volumes, promovendo a inversão do sentido côncavo da paisagem para o convexo do objeto"
(1).

Uma Escultura na Sala mantém forte relação com a arquitetura e com o objeto industrial, criando uma nova conexão com o espaço, com novos fluxos, como se "o desarquiteturasse" para "rearquiteturá-lo". São 29 cubos, em três dimensões, 0,50, 1,00 e 2,00 metros; sendo dois dos grandes encrustados em paredes. As listras de branco e preto, com 10 cm, criam uma métrica do espaço. Uma sensação rítmica é dada pela direção das listras: verticais quando o cubo é todo listrado, e horizontais quando tem faces em branco ou preto chapado. O ferro é um elemento estrutural da escultura, e seu peso tornou necessário o escoramento das lajes inferiores. Vazados, os cubos estruturam um percurso, possibilitando que se caminhe sobre eles, atravessando espaços, ou simplesmente que se sente neles para apreciar a paisagem da praia de Ipanema. Se em sua montagem em Brasília eles guardavam um aspecto mais lúdico, com crianças neles subindo e descendo, e, na Praça Tiradentes, o de abrigo, sobretudo para moradores de rua, em Uma Escultura na Sala remetem, de certo modo, aos Ninhos, de Hélio Oiticica, que permitiam que o público se deitasse, namorasse ou apenas conversasse em seus colchões.

Os jogos de significações e a atenção à interação com o espectador, constantes na poética de Edu Coimbra, criam, no clima cenográfico de Uma Escultura na Sala, possibilidades de se fazerem a experiência da obra e a experiência de si mesmo.

2015

obs: texto escrito para impresso da exposição Uma Escultura na Sala, realizada na Casa de Cultura Laura Alvim, Rio de Janeiro, em maio de 2015

nota:
1  Eduardo Coimbra. Conversa entre Eduardo Coimbra, Glória Ferreira, João Modé e Ligia Canongia a partir de mensagens via internet. In: Eduardo Coimbra. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2004.



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